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sábado, 6 de março de 2010

Receita da Mulher( Por Vinicius de Morais )











Receita de mulher



As muito feias que me perdoem


Mas beleza é fundamental. É preciso


Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso


Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture


Em tudo isso (ou então


Que a mulher se socialize elegantemente em azul, como na República Popular Chinesa).


Não há meio-termo possível. É preciso


Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito


Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto


Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora.


É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche


No olhar dos homens. É preciso, é absolutamente preciso


Que seja tudo belo e inesperado. É preciso que umas pálpebras cerradas


Lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços


Alguma coisa além da carne: que se os toque


Como no âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos


Que é preciso que a mulher que ali está como a corola ante o pássaro


Seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e


Seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem


Com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos então


Nem se fala, que olhe com certa maldade inocente. Uma boca


Fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência.


É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos


Despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas


No enlaçar de uma cintura semovente.


Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras


É como um rio sem pontes. Indispensável.


Que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida


A mulher se alteie em cálice, e que seus seios


Sejam uma expressão greco-romana, mas que gótica ou barroca


E possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de cinco velas.


Sobremodo pertinaz é estarem a caveira e a coluna vertebral


Levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal!


Os membros que terminem como hastes, mas que haja um certo volume de coxas


E que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem


No entanto, sensível à carícia em sentido contrário. É aconselhável na axila uma doce


relva com aroma próprio


Apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!).


Preferíveis sem dúvida os pescoços longos


De forma que a cabeça dê por vezes a impressão


De nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre


Flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos


Discretos. A pele deve ser frescas nas mãos, nos braços, no dorso, e na face


Mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior


A 37 graus centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras


Do primeiro grau. Os olhos, que sejam de preferência grandes


E de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e


Que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão


Que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta


Ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.


Ah, que a mulher de sempre a impressão de que se fechar os olhos


Ao abri-los ela não estará mais presente


Com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá


E que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber


O fel da dúvida. Oh, sobretudo


Que ela não perca nunca, não importa em que mundo


Não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade


De pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma


Transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre


O impossível perfume; e destile sempre


O embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto


Da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina


Do efêmero; e em sua incalculável imperfeição


Constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação imunerável.












Vinícius de Moraes

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